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Balanços mostram lenta recuperação das empresas

A chamada margem bruta - o que sobra das receitas depois de descontados os custos - foi de 28,3% no quarto trimestre, abaixo dos 28,9% do mesmo período do ano anterior.

Fonte: Valor Econômico

As empresas de capital aberto mantiveram, no quarto trimestre, a tendência de recuperação vista nos meses anteriores, com crescimento das vendas, dos resultados operacionais e dos lucros. Embora o cenário macroeconômico ainda seja uma barreira para um crescimento mais forte, o pessimismo dos analistas de investimentos parece ceder lugar à expectativa de um ano um pouco melhor em 2013.

Números compilados pelo Valor Data, com base nos dados da consultoria Economática de demonstrações contábeis de 133 empresas, mostram que a receita é a maior em dois anos, mas cresceu em proporção semelhante aos custos - ou seja, eles também são os maiores da amostra. A chamada margem bruta - o que sobra das receitas depois de descontados os custos - foi de 28,3% no quarto trimestre, abaixo dos 28,9% do mesmo período do ano anterior.

Na análise dos dados, o Valor optou pela amostra que exclui Petrobras e Vale (os números com e sem os dois balanços estão na tabela desta página), já que o tamanho desproporcional das duas empresas distorce o resultado geral.

Nos três meses encerrados em dezembro, sem Petrobras e Vale, a receita de vendas e serviços avançou 8,6% na comparação com julho a setembro e 18,6% sobre igual período do exercício anterior, para R$ 207 bilhões.

Os custos com produtos e serviços (que, grosso modo, inclui matérias-primas, insumos e mão de obra no chão de fábrica) avançaram 8,7% e 19,6%, respectivamente, para R$ 148,41 bilhões. O lucro líquido subiu 25,7% sobre três meses antes e 31,4% anualmente e somou R$ 16,22 bilhões.

Quando Petrobras e Vale entram na conta, o lucro líquido cai 29% em bases anuais, para R$ 18,34 bilhões, e a receita sobe 16,5%, para R$ 309,15 bilhões. Os custos avançam 22,2%.

"A percepção é que os negócios permaneceram rentáveis", dizem os analistas Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, da Coinvalores, mas a recuperação ainda é "incipiente".

A eficiência, medida pela relação entre receita de vendas e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) aumentou para 20% no quarto trimestre, após manter-se em 18,7% nos quatro trimestre anteriores, o que mostra uma contenção das despesas operacionais com vendas, gerais e administrativas - gastos com publicidade e salários de executivos, por exemplo, entram nessa conta.

Mas a grande preocupação é com os custos. Algumas empresas conseguiram repassar os aumentos aos clientes apenas neste início de ano, como as produtoras de papel Klabin e Suzano, as siderúrgicas Usiminas e CSN, e a Petrobras, que reajustou o preço do diesel por duas vezes desde janeiro.

Entre os grupos que se empenharam em diminuir custos, mas ainda preocupam, estão as produtoras de papel e celulose, a Vale e a siderúrgica Usiminas. Na contramão, as empresas de saúde tiveram um crescimento relativamente baixo, "com um aumento da receita em linha com a inflação, enquanto os custos a superaram", nota o analista Guilherme Assis, da Brasil Plural Corretora.

Na Petrobras, os custos continuam em alta. A esperança é que os repasses de preço diminuam uma parte da defasagem sobre os preços internacionais, pelos quais a companhia compra combustíveis no exterior. No quarto trimestre, os custos com vendas da estatal subiram 18,5%, para R$ 56,8 bilhões, o que, para se ter ideia da grandeza, representou um terço do faturamento de todas as empresas da amostra. A receita não subiu na mesma proporção, o que reduziu em quatro pontos percentuais a margem bruta para 23%.

Estoques deram um sinal positivo aos investidores, com queda após nove meses de crescimento

Os estoques, no entanto, deram um sinal positivo aos investidores. Após nove meses de crescimento, as empresas conseguiram reduzir a linha do balanço para R$ 77,65 bilhões entre outubro e dezembro. Segundo os analistas da Coinvalores, a queda refletiu os ajustes de produção e a estabilização da demanda.

A situação mais saudável deu fôlego para o repasse de preços. Foi o caso da Usiminas, que reduziu os estoques para R$ 3,78 bilhões no trimestre, em 95 mil toneladas de aço, e em 482 mil toneladas em 2012. "Foi uma desestocagem intensa de aço fabricado em 2011, com custos mais elevados, que sacrificou margens da empresa, porém reforçou seu caixa", disse a companhia em nota que acompanha o balanço.

A Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Industria (CNI) apontava em novembro a baixa dos estoques para um nível próximo ao planejado, de 50,5 pontos. O indicador não se situava neste patamar desde abril de 2011.

Os setores com mais facilidade para o repasse de preços, como as empresas de alimentos e bebidas, cujos produtos são de consumo essencial, e concessões e shoppings centers, com receita indexada à inflação, mostraram bons resultados, diz Leonardo Milane, estrategista do banco Santander.

No acumulado de 2012, a receita líquida atingiu R$ 1,115 trilhão, alta de 32,6% em bases anuais, e o lucro alcançou R$ 81,38 bilhões, 30,7% inferior a 2011. Sem Petrobras e Vale, a receita subiria 36%, para R$ 740,17 bilhões, e a última linha do balanço recuaria 4,3%, para R$ 51,87 bilhões.

Os números de 2012 não foram tão fortes quanto o desejado, mas os balanços sinalizam o bom desempenho em 2013. O início do ano pode continuar morno, na opinião de analistas, mas o crescimento é certo no segundo semestre até para os setores com mais dificuldades.

"O mercado tem olhado para 2013 com perspectivas positivas, sem se preocupar com aspectos pontuais do quarto trimestre", afirmam Piagentini e Barbosa, da Coinvalores.

No segmento de siderurgia, existe uma recuperação nos preços do aço que pode trazer melhoras operacionais. A Vale é muito dependente do preço do minério de ferro, mas o enfoque em eficiência é o que mais vai importar, diz a analista Juliana Chu, da Votorantim Corretora.

Em consumo, o ritmo de abertura de lojas tende a continuar forte neste ano, indicando a manutenção da perspectiva de crescimento, diz Luiz Cesta, do banco Votorantim.

Em logística, que teve bom desempenho em 2012, na opinião do analista Gabriel de Gaetano, da Fator Corretora, as novas licitações de concessões que acontecem neste ano podem trazer otimismo.

 

 

Petrobras e Vale travam Índice Bovespa, que ainda não reflete melhora de resultados


Os balanços do terceiro trimestre confirmaram um esperado respiro para a economia brasileira após um ano de lucros modestos, mas essa recuperação de resultados ainda não se reflete no Ibovespa. O principal índice da bolsa brasileira beira os 56 mil pontos, abaixo dos 57 mil pontos em que operava no fim do terceiro trimestre.

Desde o início do ano, o Ibovespa recua 8%, sendo que uma baixa de 6,6% foi acumulada desde que o Bradesco inaugurou a temporada de balanços, em 28 de janeiro. Com quatro ações e grande representatividade na carteira teórica, a Vale e a Petrobras têm uma boa parcela de culpa no mau humor do mercado.

A mineradora encerrou o quarto trimestre com prejuízo recorde de R$ 5,63 bilhões, após uma baixa contábil de R$ 10 bilhões relacionada à reavaliação de ativos de níquel, carvão, alumínio e dos investimentos na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), controlada pela alemã ThyssenKrupp. As receitas da Vale caíram 7%, para R$ 24,1 bilhões, e o resultado operacional ficou negativo em R$ 2,4 bilhões.

Já a petrolífera obteve lucro líquido 53% maior nos três meses finais de 2012, de R$ 7,74 bilhões, embora o ganho operacional de R$ 6,12 bilhões tenha representado queda de 21% ante um ano antes. A receita líquida subiu 13%, para R$ 73,4 bilhões.

Mas enquanto o discurso da Vale sobre austeridade de custos e investimentos impulsionou a ação em 3% na sessão seguinte ao balanço, os investidores penalizaram os papéis ordinários da Petrobras com queda de 8% após o resultado. A última linha do relatório financeiro da estatal subiu devido ao menor pagamento de impostos e uma reclassificação contábil de parte dos títulos públicos em carteira, que gerou ganho de R$ 1,5 bilhão e ofuscou a piora operacional.

O resultado financeiro da Petrobras subiu de R$ 400 milhões no quarto trimestre de 2011 para R$ 2,79 bilhões nos últimos três meses do ano passado. Com a estatal na amostra geral, o resultado financeiro das 133 empresas que já divulgaram resultados melhora 23,7% em bases anuais, para perdas de R$ 4,48 bilhões. Sem a Petrobras e a Vale, cresce 8% e fica negativo em R$ 5,64 bilhões.

Os investimentos em bens de capital avançam 5,5% na comparação com o terceiro trimestre e 41% com igual período de 2011, no levantamento que exclui a mineradora e a petrolífera. Com elas, sobem 1% e 22%, respectivamente. Apesar de a Petrobras ter mantido os planos de destinar R$ 97,6 bilhões para reforçar as operações em 2013 - 10% a mais que no ano passado -, a Vale segue em um esforço de cortar custos, despesas e melhorar a produtividade.

Da mesma forma que Vale e Petrobras são referências na bolsa, seus números astronômicos distorcem, para fins de análise, os resultados das outras companhias que compõem o Ibovespa. No caso do quarto trimestre, de forma negativa.

"Há boas histórias de resultado no quarto trimestre, mas de empresas com participação menor no Ibovespa, como Ambev, Brasil Foods e Sabesp ", diz Leonardo Milane, estrategista do banco Santander. Ele lembra que a relevância dos setores de commodities e de energia, preferidos por estrangeiros pela grande liquidez, impede que o índice acompanhe as bolsas externas e avance.

O índice americano Dow Jones sobe 10% no ano, e o DAX 30, de Frankfurt, tem valorização de 4,2% desde janeiro, apesar da situação econômica mais complicada na Europa.

No IBRX-100, que reúne as cem principais empresas listadas na bolsa brasileira, a distorção se reduz. O índice recua 3,5% desde o início do ano e 3% desde o início da temporada de balanços. O maior número de companhias listadas diminui o peso de Vale e Petrobras.

Para Milane, questões específicas também ofuscam boa parte dos balanços. A Vale, por exemplo, apesar do resultado operacional melhor, cedo ou tarde terá de lidar com a cobrança de mais de R$ 4 bilhões com os royalties de mineração devidos ao governo, "e o mercado não quer pagar para ver". (DM e TB)

 

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